
Você pode viver louvando ou murmurando ‒ você é quem decide!
Em maio de 2012, ouvi uma história1 que me deixou estarrecido. Uma mulher doou um rim para ajudar a sua supervisora que estava muito doente. Mas, por não conseguir retornar logo ao trabalho, em função de complicações da cirurgia, a doadora foi demitida. Isso aconteceu em Long Island, Nova York (EUA). Debbie Stevens ofereceu o rim para salvar a vida de Jackie Bruscia, diretora da revendedora de carros onde trabalhava, e ao invés de ouvir “obrigada”, ela ouviu “você está demitida”. Jackie deduziu que a funcionária estava se valendo da situação para faltar ao trabalho e não teve dúvida em colocá-la no “olho da rua”. Na época, este caso teve uma grande repercussão. Muitos nos Estados Unidos e em várias partes do mundo se doeram por Debbie. Ingratidão é sempre revoltante! Contudo, nem sempre ela é tão evidente como nesta história. Às vezes, se manifesta em situações bem corriqueiras da vida e nem notamos o quanto está faltando gratidão em nós.
Além de ser um pecado, a ingratidão parece fazer parte da essência de todos os demais pecados. Pois todo pecado é um ato de rebeldia contra Deus e este tipo de rebeldia sempre nasce no interior de filho ingrato. Em 1 Coríntios 10.1-11, o apóstolo Paulo censura os israelitas, descreve-os como um povo ingrato e nos alerta a sermos diferentes.
Antes escravos no Egito, os israelitas nada eram e nada tinham. Depois, ao serem poderosamente libertos por Deus, tiveram o privilégio de presenciar vários milagres, como ver o mar se abrir, beber água da rocha no deserto e comer pão que caía do céu. Assim, deveriam ser imensamente gratos ao Senhor, mas em vez disso, foram idólatras, infiéis, desprezaram e zombaram de Deus, e murmuravam o tempo todo. Por estes motivos, Deus não se agradou deles e muitos pereceram no deserto.
Esta passagem bíblica mostra o que não devemos ser. Começa dizendo: “não quero que ignoreis isso” (v.1) e termina assim: “Tudo isso lhes aconteceu como exemplo e foi escrito como advertência para nós” (v.10). Vejamos, a seguir, algumas características próprias de quem é ingrato.
- O ingrato esquece facilmente tudo que recebeu.
Os israelitas esqueceram todos os milagres que viveram e não valorizavam aquilo que Deus tinha dado a eles, mesmo sem merecerem. Na melancolia deles, preferiam lembrar-se, de forma nostálgica, das comidas do Egito e do tempo em que eram “felizes” como escravos. Quanta ingratidão! Quantas vezes também não agimos assim, esquecendo que, mesmo sem merecer, Deus tem feito muitas coisas por nós? Esquecemos com facilidade das muitas provas que ele já nos deu de que nos ama. Valorize o que você tem. Abrace cada oportunidade. Ame sua família. Curta seu trabalho. Desfrute da vida. Foi Deus quem deu a você, seja agradecida a ele por isso.
- O ingrato não honra aquele que lhe fez bem.
Os israelitas tinham tudo para serem as pessoas mais fiéis da face da terra. Em vez disso, foram idólatras (v.7), praticaram imoralidade (v.8) e afrontaram a Deus (v.9). A melhor maneira de demonstrarmos nossa gratidão a Deus é vivendo uma vida que o honre. Devemos adorá-lo, exaltá-lo, louvá-lo, não apenas de palavras, mas principalmente através de nossas atitudes, nossos gestos e nossa conduta.
De igual modo, devemos ser gratos às pessoas que nos fazem felizes, que contribuem para nosso bem, que se doaram ou se doam por nós, que estão sempre ao nosso lado. Devemos honrá-las, agradecê-las publicamente, elogiá-las. É preciso fazer isso não apenas da boca para fora, mas sim com intenções sinceras. Você tem feito isso?
Saber agradecer e honrar alguém que nos fez bem é uma questão de caráter. Gosto das palavras de João Chinelato: “Quando ajudar alguém, nunca lembre. Quando for ajudado, nunca esqueça. Gratidão revela o caráter…”. Já Milo Gates diz que “o maior teste de caráter é verificado na quantidade e na força da gratidão que demonstramos”. Isso é verdade. Sem dúvida, esta é uma virtude de pessoas nobres.
- O ingrato não reconhece o que lhe foi feito.
No texto sugerido, os israelitas foram incapazes de reconhecer o que Deus fez por eles. Ainda pior, desprezaram-no e o afrontaram (v.9). Agiam como se não precisassem de Deus.
A ingratidão e a arrogância são irmãs gêmeas. Na Bíblia, costumam aparecer juntas (Dt 8.12-14; 2 Tm 3.2). Pois é preciso ser humilde para reconhecer que necessitamos das pessoas e que carecemos, sobretudo, de Deus. Porém, o soberbo não consegue reconhecer que só chegou onde chegou porque muitos lhe ajudaram pelo caminho. O arrogante tem difi culdade em dizer “sou grato pelo que você fez por mim”.
Você tem facilidade em dizer “muito obrigada”? Quem são as pessoas que lhe ajudaram na vida e que você sente uma profunda gratidão? Você já disse isso para elas? Saiba que a gratidão é o grande tesouro dos humildes!
- O ingrato prefere reclamar ao invés de agradecer.
Na Bíblia, poucas coisas aborrecem mais a Deus do que a murmuração. Contudo, esta era o “esporte” preferido dos israelitas no deserto (v.10). A murmuração demonstra insatisfação com Deus e desconfiança no cuidado dele.
Tem um ditado francês que diz: “Gratidão é a memória do coração”. O problema é que todo ingrato sofre de amnésia. Ele se esquece que “até aqui nos ajudou o Senhor!” (1 Sm 7.12). Quando paramos para refletir em tudo que temos e que recebemos de Deus, logo notamos que existem muito mais motivos para agradecer do que para reclamar.
Muitos já disseram que todo o nosso descontentamento por aquilo que nos falta procede da nossa falta de gratidão por aquilo que temos. A Bíblia nos ordena: “Em tudo dai graças…” (1 Ts 5.18). Mas é fato que, se você quiser viver amargurado e reclamando o tempo todo, não vão lhe faltar motivos. Por isso, viver louvando ou murmurando é uma questão de escolha.
Ser grato é um hábito que precisa ser cultivado e faz toda a diferença em nossa vida. Gosto da frase de Matthew Henry: “Agradecer é bom, mas viver agradecido é melhor!”. Este é um dos segredos da felicidade plena, pois transforma o que temos em sufi ciente. Portanto, pare de fi car reclamando e seja grata por tudo que o Pai deu a você.
Deus mesmo diz: “Quem me oferece sua gratidão como sacrifício honra-me…” (Sl 50.23). Contudo, precisamos também ser gratos a todas as pessoas que Deus colocou em nosso caminho. Creio que, ao agradecê-las também agradecemos ao Senhor, e ao honrá-las, também estamos honrando a Deus.
Isso inclui nossos pais! Curiosamente, o apóstolo Paulo descreve a geração dos últimos dias como desobediente aos pais e ingrata (2 Tm 2.3). De fato, isso é o que mais vemos em nossos dias, mas você precisa ser diferente. Honre-os sempre, mesmo quando forem bem velhinhos ou quando estiverem doentes. William Shakespeare disse que: “Ter um fi lho ingrato é mais doloroso do que a mordida de uma serpente”. Portanto, cultive gratidão em todos os seus relacionamentos e viva de forma mais feliz!
Fonte: Revista O Clarim – edição 69